Recomendo fortemente
que antes de criticar um pensador/filósofo você leia previamente suas obras
originais para não cair no equívoco de tomar como verdade aquilo que outros
ideólogos escreveram sobre o autor original (Vide Gramsci). Sua recusa de
escrever sobre Marx parece um trauma relacionado a tudo aquilo que você leu
sobre ele, mas que talvez não reflita sobre uma leitura própria de Marx. Seria
o mesmo que eu criticar Jesus Cristo pela Igreja Católica ter feito a
inquisição na idade média e ter perseguido os cientistas, “bruxas”, etc quando
na verdade se sabe que uma coisa é o pensamento original cristão e outra é
aquilo que determinada igreja prega como sendo a visão cristã. Ou Silas
Malafaia é representante dos ideais de Cristo?
Você atribui a
“revolução gramscista em curso no Brasil” os problemas da “criminalidade
descontrolada, a epidemia das drogas cujo consumo só cresce (São aliados das
FARCs), a crise de valores morais, destruição do belo como alicerce da arte
(funk e outras coisas), desrespeito aos mais velhos, etc.” Atribuir a um
fantasmagórico projeto político uma série de problemas sociais que advém da
própria sociedade capitalista como um todo é de uma falta de clareza dos
processos sociais. A criminalidade e a violência, por exemplo, vem tendo
aumento progressivo desde a década de 80 (Antes deste temido governo petista)
aonde o regime de acumulação capitalista teve uma alteração em todas das suas
esferas. O surgimento do estado neoliberal, as relações internacionais
neoimperalistas e uma nova organização de trabalho baseada no toyotismo. A
partir deste quadro temos um crescente aumento da pobreza e da desigualdade
social que advém provavelmente desta economia que você defende, do “livre
mercado” que acabou desembocando nos oligopólios de mercado aonde poucas
empresas detêm controle do mercado . Neste quadro de acumulação
intensiva-extensiva de capital tem-se a lupemproletariazação, a precarização
das condições de vida, , etc criando o cenário para a contratação de “laranjas”
para o tráfico de drogas que você menciona e também o aumento da violência
através de assaltos, roubos, seqüestros, etc.
Detenho-me agora as
ditas “conseqüências físicas da ideologia marxista no mundo”. É neste ponto que
você revela desconhecer completamente a teoria social de Marx. Ao fazer sua
observação sobre o Camboja você descreve um evento histórico que por si mesmo
revela uma contradição com a perspectiva revolucionária de Karl Marx. Se você
entendesse realmente desta teoria que te causa náuseas saberia que o sujeito
histórico responsável pela concretização do projeto comunista é a classe social
que não detém os meios de produção, o proletariado. Você cita em um momento a
“lavagem cerebral” que as escolas fazem da “luta de classes”, mas parece ser
completamente ignorante perante este conceito que você mesmo usa. Ora, a luta
de classes revela o antagonismo entre proletariado e burguesia, as classes
fundamentais do capitalismo. É no Manifesto que Marx assinala: “De todas as
classes que hoje em dia se opõem à burguesia, só o proletariado é uma classe
verdadeiramente revolucionária”. Como assinalei acima, o sujeito histórico
responsável pela destruição do capitalismo e construção do modo de produção
comunista é esta classe, e não os “”comunistas””(aspas minhas) no governo que
implementarão seu projeto megalomaníaco. Até porque, conforme Marx assinala
também no manifesto, os comunistas “não tem interesses diferentes dos
interesses gerais do proletariado. Não proclamam princípios particulares,
segundo os quais pretendem moldar o movimento operário”. Sabe-se que o PT e os
dirigentes burocráticos do partido detêm muitos interesses e privilégios
diferentes daqueles dos trabalhadores brasileiros e do mundo, e que manter a
máquina estatal funcionando e a economia capitalista a pleno vapor faz parte de
seu projeto de poder.
O decálogo de Lênin
que você cita existe? Ou é fruto das ilusões filosóficas do Sr. Olavo de
Carvalho em suas viagens intelectuais? Sobre a vanguarda, o partido comunista e
o estado recomendo que o Sr. Leia “Guerra Civil na França” do Karl Marx (Este
que você repudia sem conhecer) aonde ele faz uma análise pormenorizada da
primeira experiência histórica revolucionária do proletariado. Percebemos
claramente no texto que o protagonismo do proletariado como responsável pela
coletivização dos meios de produção em decorrência da luta contra a burguesia
parisiense em 1871 não dá margens para “atrocidades” contra a humanidade, visto
que a grande maioria da população pertencia ao proletariado e demais classes
subalternas oprimidas e exploradas. Poderia haver estas mortes arbitrárias
todas quando as população pobre se voltava contra a minoria que a explorava?
Não houve nada de diferente a não ser o conflito que historicamente sempre
houve entre as forças repressivas do estado que defendem os interesses da
classe dominante de sua época. E não foi justamente isto que a burguesia fez na
revolução francesa? Ora, os trabalhadores destruíram o Estado (Este que você
faz referência como opressor) e o substituíram pela associação livre e
horizontal da sua classe. Lutaram pelo “autogoverno dos produtores”(Palavras do
Marx, que talvez você desconheça) sem dar espaço para sanguessugas tanto
burgueses como burocráticos (Caso de Cuba, URSS, etc). “A Comuna fez uma
realidade dessa deixa das revoluções burguesas – governo barato – destruindo as
duas maiores fontes de despesa: o exército permanente e o funcionalismo de
Estado. “ - Karl Marx, A Comuna de Paris.
Tendo em vista a
argumentação parva de sua carta duas coisas me ocorrem: 1)Você irá estudar mais
antes de falar qualquer coisa sobre um assunto desconhecido (Você não aprendeu
isto na universidade?) e rever suas posições e tecer uma crítica com um mínimo
de verdade sobre o tema. 2)Ou irá revelar uma busca incessante por autores
anti-comunistas que escreveram ideologias por aí para fortalecer seu
posicionamento conservador que só irá revelar aquilo que Marx nos ensinou com
seu materialismo histórico-dialético: Os indivíduos pertencentes as classes
dominantes tendem a defender seus interesses e privilégios mesquinhos. Assim
nunca ultrapassando o que nomeou como “os limites intransponíveis da consciência
burguesa”.
Leonel Luiz Dos Santos