sexta-feira, 3 de maio de 2013




A personalidade autoritária 


O autoritarismo sempre foi um dos problemas básicos da sociedade humana. Pode ser visto, em sua mais espetácular forma, nas ditaduras políticas, mas pode ser encontrado, em forma menos dramática e muitas vezes mais pérfida, em quase todos os tipos de relações inter-pessoais e de organização social. Um dos seus aspectos, que interessou especialmente os psicólogos, é o papel da personalidade no comportamento autoritário.

Por exemplo, um amplo estudo de adorno e seus companheiros apresenta provas de que uma síndrome de traços “autoritários” pode ser identificada como uma parte nuclear e permanente das personalidades de algumas pessoas. Os principais traços que constituem a síndrome parecem ser:

  1. Grande interesse por relações de autoridade entre as pessoas; extrema deferência para com a autoridade superior, e imposição da própria autoridade sobre os que estão em posição inferior.
  2. Grande acentuação da moralidade, dos valores e do comportamento convencional; estrita conformidade as normas do grupo.
  3. Excessivo controle e negação dos próprios impulsos e sentimentos “imorais”, e projeção de tais impulsos em quem não pertence ao seu grupo, exagerado sentimento de própria “correção” moral; falta de autoconhecimento.
  4. Despersonalização das relações sociais; tendência para dirigir e explorar as pessoas como se fossem objetos, em vez de tratá-las como seres humanos; expectativa de ser explorado por outros; tendências sádicas (prazer em ferir outras pessoas), ao mesmo tempo que tendências masoquistas (prazer em ser ferido).
  5. Rigidez dos processos de pensamento excessivamente estereotipada; preconceito e intolerância com relação aos grupos minoritários.

O estudo de Adorno sugere que o desenvolvimento dessa síndrome decorre de tratamento disciplinar muito severo da criança; esse tratamento, de forma característica, envolve uma excessiva acentuação da correção das normas e valores dos pais, insistindo-se em total obediência, reforçada por punições. Muitas vezes esta disciplina severa é acompanhada por uma atitude, dos pais, de rejeição emocional da criança, e pela sua exploração.

Como resultado desta situação, a criança desenvolve uma extrema submissão à autoridade dos pais, que mais tarde se estende a todas autoridades. Essa submissão está ligada a uma aceitação indiscutida da correção dos valores das autoridades. Ao mesmo tempo que se desperta uma grande hostilidade com relação aos pais ou outras autoridades. Esta hostilidade não pode exprimir-se numa agressão direta contra a imagem da autoridade. De um lado, existe o medo de punição, dada pela autoridade toda poderosa; de outro, essa agressão seria incompatível com a crença na total correção da autoridade. Assim a hostilidade é reprimida (…), e a agressão se desvia para objetos mais seguros, tais como grupos minoritários ou aqueles em posição de um status inferior, e algumas vezes contra o eu.

Provas para essa imagem geral foram encontradas por Adorno e seus companheiros – e por um grande número de outros investigadores – através de estudos de muitos grupos de sujeitos, com emprego de diferentes tipos de técnicas de investigação, tais como entrevista psiquiátricas, questionário de atitudes, testes em laboratório, levamenta sociológico.

Deve-se acentuar que a síndrome “autoritária” não é característica exclusiva de qualquer movimento ideológico, classe social, ou profissão. “Personalidades autoritárias” podem ser encontradas em qualquer lugar – tanto no sindicato quanto na administração industrial, tanto em clubes quanto na burocracia governamental; não são desconhecidas nas igrejas, nem nas salas de aula.

T. W Adorno; E. Frenkel – Bruswilk; D. J Levinson, e R.N Sanford. The authoritarian personality. Nova Iorque, Harper. Apud.

Extraído de “Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia”.
Imagens do filme "A Onda". Recomendo o filme para reflexão a respeito da personalidade autoritária.