O autoritarismo sempre foi um dos problemas básicos da sociedade humana. Pode ser visto, em sua mais espetácular forma, nas ditaduras polÃticas, mas pode ser encontrado, em forma menos dramática e muitas vezes mais pérfida, em quase todos os tipos de relações inter-pessoais e de organização social. Um dos seus aspectos, que interessou especialmente os psicólogos, é o papel da personalidade no comportamento autoritário.
Por exemplo, um amplo estudo de adorno
e seus companheiros apresenta provas de que uma sÃndrome de traços
“autoritários” pode ser identificada como uma parte nuclear e
permanente das personalidades de algumas pessoas. Os principais
traços que constituem a sÃndrome parecem ser:
- Grande interesse por relações de autoridade entre as pessoas; extrema deferência para com a autoridade superior, e imposição da própria autoridade sobre os que estão em posição inferior.
- Grande acentuação da moralidade, dos valores e do comportamento convencional; estrita conformidade as normas do grupo.
- Excessivo controle e negação dos próprios impulsos e sentimentos “imorais”, e projeção de tais impulsos em quem não pertence ao seu grupo, exagerado sentimento de própria “correção” moral; falta de autoconhecimento.
- Despersonalização das relações sociais; tendência para dirigir e explorar as pessoas como se fossem objetos, em vez de tratá-las como seres humanos; expectativa de ser explorado por outros; tendências sádicas (prazer em ferir outras pessoas), ao mesmo tempo que tendências masoquistas (prazer em ser ferido).
- Rigidez dos processos de pensamento excessivamente estereotipada; preconceito e intolerância com relação aos grupos minoritários.
O estudo de Adorno sugere que o
desenvolvimento dessa sÃndrome decorre de tratamento disciplinar
muito severo da criança; esse tratamento, de forma caracterÃstica,
envolve uma excessiva acentuação da correção das normas e valores
dos pais, insistindo-se em total obediência, reforçada por
punições. Muitas vezes esta disciplina severa é acompanhada por
uma atitude, dos pais, de rejeição emocional da criança, e pela
sua exploração.
Como resultado desta situação, a
criança desenvolve uma extrema submissão à autoridade dos pais,
que mais tarde se estende a todas autoridades. Essa submissão está
ligada a uma aceitação indiscutida da correção dos valores das
autoridades. Ao mesmo tempo que se desperta uma grande hostilidade
com relação aos pais ou outras autoridades. Esta hostilidade não
pode exprimir-se numa agressão direta contra a imagem da autoridade.
De um lado, existe o medo de punição, dada pela autoridade toda
poderosa; de outro, essa agressão seria incompatÃvel com a crença
na total correção da autoridade. Assim a hostilidade é reprimida
(…), e a agressão se desvia para objetos mais seguros, tais como
grupos minoritários ou aqueles em posição de um status inferior, e
algumas vezes contra o eu.
Provas para essa imagem geral foram
encontradas por Adorno e seus companheiros – e por um grande número
de outros investigadores – através de estudos de muitos grupos de
sujeitos, com emprego de diferentes tipos de técnicas de
investigação, tais como entrevista psiquiátricas, questionário de
atitudes, testes em laboratório, levamenta sociológico.
Deve-se acentuar que a sÃndrome
“autoritária” não é caracterÃstica exclusiva de qualquer
movimento ideológico, classe social, ou profissão. “Personalidades
autoritárias” podem ser encontradas em qualquer lugar – tanto no
sindicato quanto na administração industrial, tanto em clubes
quanto na burocracia governamental; não são desconhecidas nas
igrejas, nem nas salas de aula.
T. W Adorno; E. Frenkel – Bruswilk;
D. J Levinson, e R.N Sanford. The authoritarian personality. Nova
Iorque, Harper. Apud.
ExtraÃdo de “Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia”.
Imagens do filme "A Onda". Recomendo o filme para reflexão a respeito da personalidade autoritária.
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